segunda-feira, 2 de agosto de 2010

CORREIO | O QUE A BAHIA QUER SABER: Xixi desde pequeno: CORREIO flagra o mau hábito dos baianos de urinar nas ruas

CORREIO | O QUE A BAHIA QUER SABER: Xixi desde pequeno: CORREIO flagra o mau hábito dos baianos de urinar nas ruas

Em Salvador, ninguém se aperta quando bate a vontade de aliviar a bexiga. Quando a fisgadinha na virilha anuncia o chamado da natureza, ninguém sabe onde a aflição vai acabar. A redenção pode acontecer à sombra de uma árvore mais robusta, em um poste roubado a um cachorro, num muro próximo a um módulo policial e até mesmo em um banheiro público.


Flagrante da lição de baianidade ao ar livre na Estação da Lapa. Xixi desde pequeno

Em entrevista ao CORREIO, o prefeito João Henrique (PMDB) prometeu punir com prisão quem for pego urinando em locais públicos. O problema é que, para a complexa fauna de mijadores baianos, há uma espécie em extinção - os sanitários. A caça é dura. Salvador conta com quase 3 milhões de pessoas, mas oferece só 64 banheiros públicos.

A proporção é de um equipamento para cerca de 47 mil apertados. Asituação chegou ao ponto de um muro em frente ao módulo policial da Estação da Lapa ser utilizado como mictório. Policiais que trabalham no local conhecem a situação. “Os piores dias são quinta, sexta e sábado, quando o pessoal fica bebendo por aqui”, diz um PM.

Ele explicou que só agem quando acionados. “Se formos levar para a delegacia, não faremos outra coisa. Só agimos se alguém procurar confusão. Tem um banheiro no primeiro andar da estação”, argumentou.



CASCATAS
Na Lapa temcascatas de urina. O auxiliar administrativo Ronaldo Nascimento, 30 anos, aconselha os usuários que passarem pelo subsolo a prestar mais atenção às goteiras do que aos ônibus. “Eles urinam na garagem do térreo e o xixi se mistura a água. O que está pingando é urina”, contou.

O problema não é só acomposição das águas. A ambulante Márcia Santana, 28 anos, há 20 trabalhando na estação, viu o que não queria ao brigar na semana passada com um homem que urinava na escadaria do térreo. “Ele me mostrou a coisa dele, disse que a rua é pública e perguntou se eu era a dona da Lapa”, lembrou.

Na Rua Areal de Cima, no Dois de Julho, o auxiliar de serviços gerais Roberto Silva fez uma parada em sua rota para um barzinho para mijar. Pego literalmente com as calças nas mãos, ele reclamou da falta de banheiros. “Preferia fazer no banheiro, mas não consegui segurar até o bar”.

Roberto contou que no aperto qualquer lugar vira sanitário. A desinibição já lhe custou algumas piadas. “Uma vez, uma mulher passou por mim e disse: ‘olha que é pequenininho’”. O carpinteiro João Carlos Bispo, 23 anos, foi flagrado na sugestiva avenida Pinto de Aguiar. Ele defende a responsabilidade ambiental dos mijadores. “Não faço em roda de carro, porque enferruja, nem no muro dos outros. Gosto de árvores, porque a gente rega e a terra absorve”.




Perseguição a mijões é exagero, diz antropólogo

Se engana quem pensa que o ato de urinar se resume a um abrir e fechar de zíperes. Para o antropólogo Roberto Albergaria, o hábito de se esgueirar em muros e postes é mais complexo do que parece. O antropólogo falou sobre o código de macheza e brincadeira de dar uma mijadinha em um pé de árvore. “É um costume cultural. É uma forma do homem afrontar outros machos na rua”, disse. A brincadeira pode ser ilustrada com a vingança do administrador Hugo Carvalho, 24 anos, contra um colega. “Ele pegou uma menina que eu estava a fim e eu mijei na maçaneta do carro dele”, lembrou.

Para Albergaria, há um exagero na perseguição aos mijões. “Essa é uma forma do prefeito desviar a atenção de problemas mais urgentes, como moradia, violência e trânsito”, argumentou. Para ele, a tentativa do prefeito João Henrique (PMDB) de fechar definitivamente a fonte não vai funcionar. “Não adianta a prefeitura impor politicamente um comportamento que não faz parte da cultura das pessoas”.

Albergaria diz que, antes de punir, o poder público precisa dar condições para as pessoas não transformarem Salvador em um imenso banheiro a céu aberto. “O povo só vai se acostumar se houver oferta de banheiros e se mais gente deixar a linha da pobreza, porque o pobre não vê escândalo nisso”, afirmou.

Dom Geraldo pediu desculpa pelo cheiro de urina em igreja


Dom Geraldo reclamou que a Catedral Basílica virou um mictório a céu aberto

Em julho de 2009, o arcebispo primaz do Brasil, dom Geraldo Majella, se constrangeu e pediu desculpas aos fiéis, que estiveram na Basílica de Salvador para conhecer o projeto de reforma do local, pelo forte cheiro de urina que a catedral apresentava. O religioso lamentou o fato de que o edifício sagrado tenha sido transformado em um mictório a céu aberto. Ele afirmou também que, além do cupim, a urina de quem passa pelo local ajuda a corroer as estruturas da catedral, que já teve metade das portas trocadas por causa disso. Dom Geraldo sugeriu ao governo que mude o local de festas do Pelourinho para outro lugar que não o Terreiro de Jesus, uma vez que os mijões não se preocupam com o patrimônio e danificam estruturas dos edifícios e monumentos, o que também prejudica o turismo.

Rio: Centenas já foram detidos por mijar em público

Centenas de pessoas já foram presas no Rio por fazer xixi em locais públicos. A maioria responde por ato obsceno e atentado ao pudor. A pena varia de três meses a um ano de prisão, mas pode ser substituída por serviços comunitários. Logo depois do Carnaval, a prefeitura faz operações choque de ordem contra o hábito de urinar nas ruas.

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